Brasil, país dos cervejeiros. Mas com que cerveja?

O Brasil é o 5º maior produtor de cerveja do mundo e tem uma média per capita de consumo em torno de 49 litros de cerveja por ano por habitante, com produção anual de quase 10 bilhões de litros. Esses dados parecem impressionantes e contribuem com a fama que nós tanto gostamos de ostentar, a de que somos um país cervejeiro.

Este é um fato incontestável, a cerveja praticamente já se constitui numa verdadeira instituição cultural brasileira, sendo esta a bebida alcoólica mais consumida do país. Porém há uma grande constatação que as grandes indústrias cervejeiras não fazem questão de mostrar nos seus festivos e sensuais comerciais de televisão. Verdade é que se bebe no geral cerveja barata e de baixa qualidade. Não que isto seja uma exclusividade nossa, pois até mesmo vários países desenvolvidos bebem mal, como é o caso do americano médio, que bebe uma cerveja não tão superior à nossa.

População sem condições, cerveja fracas

O cerne da questão é que para que o brasileiro consumidor possa encontrar nas prateleiras de supermercado uma cerveja em torno de um real, é necessária uma tremenda contenção de custos de fabricação, incluindo principalmente a matéria prima.

Não entendi direito, explica ae

Foto de lúpulos

Para explicar melhor, simplifiquemos a cerveja como sendo água fermentada com cereais, acrescida de lúpulo (planta cujo fruto dá o amargor da cerveja) e leveduras (fungos que otimizam a fermentação). Uma das questões chave para baratear o custo da cerveja é o tipo de cereal usado para sua fabricação. Os cereais mais adequados são os ditos maltados, principalmente a cevada.

Porém para “engrossar o caldo” colocam-se em grande quantidade, chegando-se a quase 50% da proporção, outros cereais mais baratos, como o arroz e o milho. Além disso, costuma-se diminuir a quantidade de cereais na cerveja, deixando-a menos saborosa e mais aguada ou mais “leve e refrescante” como dizem os comerciais.

Várias latas no congelador

Gelaaaaaaada

Assim, meu nobre modafoca, quando estiver na praia tomando uma skol superultramegamasterpowerup gelada podes ter certeza de estar bebendo arroz e milho fermentados. E falando nisso, porque foi imposta essa cultura da cerveja servida geladérrima? As bebidas muito geladas anestesiam os sensores gustativos linguais, inibindo a sensação do sabor em si, privilegiando mais a sensação térmica e praticamente escondendo verdadeiro gosto da cerveja. Uma ligeira elevação da temperatura da cerveja é bastante reveladora.

Mas nem tudo está perdido

Cerveja comemorativa ao Movimento

Felizmente de alguns anos para cá, iniciou-se no Brasil, um “movimento” iniciado por várias micro cervejarias no Brasil inteiro, que vão em direção a uma cerveja de maior qualidade, sendo que boa parte delas utiliza como marketing a tal “lei da pureza alemã de 1516“.

O que vem a ser esta lei?

Na Baviera da referida época, institui-se, através das autoridades constituídas naquele momento, uma normatização com força de lei para a produção de cerveja. A cerveja somente poderia ser produzida com água, malte (cereais maltados) e lúpulo. Essa lei é considerada o primeiro código alimentar do mundo e até hoje é respeitada na Alemanha. Não são aceitos nenhum tipo de aditivos químicos, como estabilizantes, conservantes ou outros.

Garrafas da Baden Baden

Grande Baden Baden

As referidas micro cervejarias já são em sua maioria profissionais, já podendo esquecer daquela idéia de “cerveja de fundo de quintal feita numa banheira”. As maiores contam com mestres cervejeiros experientes, muitos deles europeus, e tendo a alta tecnologia como aliada.

A cerveja que elas produzem tendem a ter maior quantidade e melhor qualidade no malte empregado, sem que isso necessariamente implique numa maior concentração de álcool. Eis porque é impossível manter um alto padrão de produção e manter um preço páreo com os das grandes cervejarias.

Garrafas da Eisenbahn

Não menos deliciosas, várias Eisenbahns

No entanto essas cervejas são inegavelmente mais saborosas e com certeza a ausência da fermentação de cereais baratos proporciona um melhor dia seguinte para quem exagerar. Posso dizer por experiência própria que eu mesmo era até poucos anos atrás como a maioria, bebedor de arroz e milho quase congelados e até achava que a Miller era a melhor cerveja do mundo! Mas aí fui tomando contato com esse mundo maravilhoso das cervejas artesanais puro malte e hoje me pergunto como é que não percebia aquele gosto residual rançoso que hoje tanto me incomoda nestas Brahmas da vida.

Mas calma, não se iluda

Bom, gosto é uma coisa extremamente pessoal e não estou aqui para julgar ninguém. Gostaria apenas de mostrar que existe uma outra realidade paralela no mercado cervejeiro brasileiro e sei que muitos vão se interessar pelo assunto. Bem, para aquele que desejar ousar na sua cervejinha, não recomendo entrar de cara nas cervejas importadas.

A Alemanha por exemplo, é considerada o país das melhores cervejas e tal, mas não é bem assim. A cerveja alemã é boa sim, mas tem um padrão bem mais amargo do que se estabeleceu culturalmente no Brasil para a cerveja. É nisso que acho interessante as micro cervejarias nacionais, pois geralmente ela costumam aliar uma cerveja de qualidade mas com um padrão de sabor que não foge muito ao brasileiro.

Bandeira do Brasil modificada

Seria até injusto dar algumas dicas de como se iniciar no mundo das cervejas artesanais brasileiras, mas podemos citar algumas. Bem, moro no Rio e aqui temos uma cervejaria de Petrópolis muito boa, a Cidade Imperial que faz uma cerveja saborosa, leve e a preço acessível, sendo excelente porta de entrada para o mundo das boas cervejas.

Poderia citar outras também, como a Mistura Clássica de Volta Redonda, a Cervejaria Backer de Belo Horizonte e a catarinense Eisenbahn.

Essas citadas e outras micro cervejarias também fabricam outras qualidades de cerveja, como as de trigo e as de alta fermentação, além da tradicional pilsen, mas isso é assunto para outra conversa…

Finalizando…

Bem, espero que tenham gostado e em breve contarei sobre minha viagem que farei próxima semana para a famosa oktoberfest, onde ficarei no coração brasileiro das micro cervejarias. Até mais, se eu sobreviver.

Como diriam os alemãs: Prosit (Um brinde)!