Lembranças nas tampinhas de garrafas…

Que meus crimes e pecados só sejam julgados na mesa do bar, nunca antes do décimo segundo copo de cerveja. Afinal a mesa do bar é o único lugar onde toda história – Ou estória. Tem realmente alguma importância.

Mas não há como negar, escrever histórias ou memórias é sempre muito difícil quando as melhores noites terminam em um ‘fading’ de lembranças. Esse efeito estranho que desafia todas as leis da física chamada amnésia alcoólica. Acordar sem saber exatamente onde está é sempre um pouco assustador. Mas é preciso manter a calma e depois de localizadas as roupas, a porta de saída e um taxi, tudo fica mais confortável.

Então você imagina todas aquelas páginas que representam as últimas horas da noite anterior mas tudo que tem é um parágrafo de início e algumas pobres linhas no final. Triste, isso até poderia ser uma boa história pra contar na mesa do bar.

Guardando as testemunhas tampinhas de garrafa

Drink e tampinhas de garrafa

Créditos: Gina Zhidov

Há algum tempo nutro o hábito de guardar nos bolsos as tampinhas das garrafas de cerveja que bebi. Não sei exatamente quando comecei isso, mas às vezes esses pequenos detalhes fazem muita diferença. Quando não existem garrafas, no caso das cervejas on tap, um guardanapo com a marca do bar ou uma bolachinha de cerveja personalizada também serve. Souvenires? Não. Fragmentos de memória.

De um jeito tosco, há uma certa esperança em que as tampinhas das garrafas me ajudarão a lembrar o que bebi e isso já é um baita começo. No meio da bagunça do bolso da calça, um guardanapo pode me dizer por quais bares eu andei e, com alguma sorte, esses pequenos fragmentos de lembranças podem iluminar algum ponto obscuro daquilo que a memória insiste em esconder.

Tem vezes que nem vale lembrar…

Barangueira dançando

Créditos: Mark Sobhani

Nas vezes em que acordar em um lugar estranho é tão assustador que nem vale a pena tentar lembrar. Vale a pena saber quais bares evitar nos próximos dias. A ressaca moral é fiel companheira nessas horas.

Há também um lance muito singelo em encontrar tampinhas de boas cervejas no bolso dos casacos – Já que não sou do tipo que guarda dinheiro. A licença poética em inventar histórias sobre uma certa noite do inverno passado, devaneando flertes no balcão do bar. Flertes que terminam em camas tão estranhas, mas que por um acaso do destino não te permitem esquecer.

Que meus pecados sejam julgados sempre na mesa do bar, assim quem sabe, no dia seguinte eles façam parte dos capítulos esquecidos dessa história.