O Elefante Rosa e Eu

Vinha evitando, quase como alguém que padece de uma fobia, alguns contatos mais profundos com cervas e chopps de fino trato. Minhas preferências, desde uma série de gastos indecentes em rótulos de alta estirpe ainda antes do último carnaval, deixaram marcas profundas em minha vida. Meu cartão de crédito e minha lomba financeira, por ainda guardarem marcas de tal peripércia, motivaram essa abstinência responsável. Ficou como lição que me embolar em uma batalha etílica e mediúnica entre Deus e Lúcifer não poderia acabar bem de forma alguma.

Beba menos, beba melhor 😉

É óbvio que não estou aqui para cuspir na Bud ou na Brahma que bebi e muito menos para desdenhar do chopp Heineken ou do Brahma (cineminha) Black. Fato é, que nos últimos cinco meses, eles seguraram minha onda, me fornecendo toda a carga energética que só esses néctares possuem. A velha síntese do alimento completo, o pão líquido nosso de cada dia. Bem verdade que depois desse longo período, vivi uma experiência psicodélica e psicotrópica inesquecível, que achei razoável dividir com os senhores, já que a conta ficou só pra mim.

Essa viagem começou com a boa companhia de bons e velhos amigos e a eterna e falsa esperança de um chopp despretensioso e sem qualquer alopração. Realmente é incrível notar como o homem se ilude para crer no que tem vontade. A princípio seria tudo relativamente rápido e baratinho, quase frugal, eu diria. Aproveitaríamos o início de um fim de semana de festejos de nosso grupo, com uma semana bem folgada, provocada pela visita de Sua Santidade, o Papa. Logo, era preciso pegar leve. Rodamos por aí e escolhemos o Itahy da Freguesia, ficava perto para quase todos e recebemos boas indicações, tudo lindo.

Começando os trabalhos…

Elefante rosa segurando uma garrafa

Créditos: Noir Fluo

Chegamos lá e demos início aos trabalhos com uma Paulistânia, só pra diminuir a tremedeira e parar de suar frio. Serve como ressalva sobre este primeiro rótulo que é realmente uma cerveja de primeira, apesar do batismo questionável. O local é realmente muito bom e recomendo demais, o atendimento é bom e os petiscos são excelentes. Queria deixar registrado uma menção honrosa ao delicioso combo do pão de alho com linguiça, espetacular! Depois de algumas poucas garrafas, passamos ao momento sofisticado da noite.

Confesso que assim que cheguei fiquei encantado com a carta oferecida no local. Opções diversas de chopp e cerva, mas já fui “na intenção”. No fundo, eu “tava pro crime” desde o início. Depois dos festejos iniciais e de equilibrar meu paladar matando minha fome, tentei começar um rito mais especial. Olhei para a carta, olhei para o amigo gravatinha e perguntei se eles realmente tinham chopp Deliruim Tremens. Ele me respondeu de forma positiva, aumentando meu nervosismo. Perguntei aos meus nobres comparsas se eles também dividiriam essa experiência comigo e, apesar do preço, a resposta foi imediatamente positiva.

Eis que surge o Elefante Rosa…

Deliruim Tremens é uma psicose causada pela abstinência ou suspensão no consumo do álcool, ou de benzodiazepínicos, mas acho que o último caso não combina com o post, Lexotan faz mal, cerveja faz feliz! Seria então a tal tremedeira que a Paulistânia reduziu (rs)? Era isso que eu estava lendo na tela do telefone enquanto aguardava quase que suando frio, a chegada do portador do santo líquido.

E então, ele chegou, em uma taça bojudinha e simpática, recheada de elefantes rosados, que voavam naquele papel de parede cor de ouro e com um belíssimo colarinho, que parecia desenhado à mão. De longe, apesar de bem desenhado, seu colar parecia ralo, mas só parecia! As simpáticas louças do elefante rosa foram gentilmente dispostas sobre a mesa, agora promovida a távola, que estava no centro de nosso animado papo. Sabíamos da importância litúrgica de se apreciar um néctar como o que ali estava de forma correta.

Tomamos as paquidérmicas taças em nossas mãos, avaliamos mais uma vez a disposição de cores e a composição incrível entre o líquido e sua espuma, ela era fina, mas não parecia rala. Brindamos e fomos apreciar esse complexo chopp.

O aroma do Elefante Rosa

Taça e bolacha da Delirium Tremens

Créditos: Jeremy

Antes de deglutir o conteúdo do copo, fiz questão de avaliar seu aroma. Mais uma vez me surpreendi e meu transe aumentava de modo exponencial. Seu cheiro lembrava frutas, diversas frutas! Não sei que notas estavam ali presentes, afinal, minha sofisticação tem limites, mas algo lembrou-me banana e pêssego.

Eis que vem o paladar…

Dei o primeiro gole e meu paladar entrou em um delicioso e psicodélico colapso. A espuma tem sabor suave, sendo leve e fina, mas é bem densa e marcante. Minha primeira vontade foi pedir uma colher, tal colarinho merecia a atenção dada a um mousse ou um chantilly de primeira linha! O líquido dourado conserva os sabores que se assemelham a uma salada de frutas, com uma lembrança especial para o sabor de banana e pêssego, mas agrega alguns sabores mais cítricos, que meu olfato não havia sentido e que meu paladar não conseguira definir, mas ainda acho que pode parecer abacaxi. O malte também pode ser notado com facilidade e sem qualquer proporção enjoativa. Pensei sinceramente que fosse terminar aquele gole deparando-me com um elefante rosa voando ao meu lado.

Voltei diferente ao mundo real depois do primeiro gole. O restante da experiência mostra que apesar do sabor marcante e divertido, esse néctar bem fermentado é encorpado e único, valendo cada centavo dessa experiência. Não me parece um chopp que deva ser banalizado, seu preço salgado faz com que seu bolso te force a apreciar dentro de um volume correto.

Finalizando

O chopp do elefante rosa é realmente de outro mundo, recomendo a todos essa viagem. A sensação é tão boa e alucinante que até na hora de pagar você não liga tanto assim. Espero viajar mais vezes com esse essa simpatia de mascote. Depois de tanta sofisticação, definiria no populacho que é um chopp de fazer o cu cair da bunda!!!

Recomendo! E você, já bebeu o líquido do elefante rosa?