Rufião – O Rei do Rio Capítulo 5

Blazer azul marinho, calça jeans, camiseta branca, boina, all-star de couro branco… Kelly me prepara pra ser o rei do Rio. Romário, Edmundo, Adriano, Vagner Love, Túlio Maravilha, Seedorf ou Fred não imaginam que os dias de republiqueta estão no fim.

Eu sou o James Brown branco e papa don’t take no mess.

Dominando o Brasil inteiro

Arrumadeira seminua

Créditos: Bramley

Dei liberdade pra que as minhas meninas superpoderosas arrumassem a sala comercial que alugamos. Agora estamos situados numa casa em Botafogo. O negócio expandiu. Na minha sala, há um armário com um dossiê com nomes das figuras mais importantes do Brasil que são nossos clientes. Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia. Cinco semanas de empresa e falta pouco para dominar a costa desse país continental.

Porém, atenho minhas atenções aqui, na margem da Guanabara, do Leme ao Pontal, da linha 1 e 2 do metrô. Ora, primeiro eu arrumo o quarto e lavo a louça, depois eu domino o mundo.

Maggie, Alexia e Kelly não fazem mais programas – coisa que eu nunca vi elas fazendo. Agora elas são minhas sócias, os braços que se estendem pelas “filiais”, enquanto eu toco os negócios daqui do Rio.

Eis que começa uma nova história…

Macacos fazendo massagem

Créditos: Janine Philipp

A história que vou contar aconteceu na terça-feira passada, 06 de novembro, dia do meu aniversário.

Kelly fechou uma famosa casa de massagem na Zona Sul do Rio de Janeiro. Foram convidadas as nossas melhores meninas e nossos melhores clientes. Uísque, cerveja, caipirinha… Tudo liberado. As meninas não precisariam fazer sexo, elas estavam lá como meras convidadas, como se fossem minhas primas.

Numa mesa, num canto, com as Meninas Superpoderosas a minha volta, observava o andar das coisas. Em especial, um cliente mais assanhadinho. Um desembargador do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro.

Bêbado de gim e tônica, ele não deixava um rabo de saia passar sem sua intervenção. As meninas se incomodavam. Ele tem mulher, filhos, faz discursos moralistas, mas tem sua carreira conturbada por alguns escândalos – desses que nunca aparecem na mídia, mas quem é do meio sabe. Esse breviário do homem branco, esse que seria um eleitor do Mitt Romney, estava ali, sentado num sofá de veludo, observando seios, bundas, coxas e se achando um rei.

Rei só tem um.

Paisagem com Rei Leão

Créditos: Neil Agate

Numa dessas atitudes, abusando do seu poder, o Desembargador quis passar algo mais que a mão e pôs dois dedos de sentença numa das putas mais respeitadas do Brasil. Ela, que tem mais poder que qualquer acórdão, não demorou em usar seu recurso para reexame daquela decisão.

BOOOOOM!!! Na sua cara, sociedade!!!

Escorregando como uma pasta de gelatina no seu sofá, aquele falafel humano rolou para debaixo da mesa. Recuperou-se e quando partiu pra cima da Puta Suprema, sofreu restrições de seu poder por um segurança do tamanho do Forum.

Se fode ae!

 

Homem arrependido

Créditos: mohammed ali

Antes que eu pudesse dizer “Essa parada vai dar merda!”, Kelly sussurrou no meu ouvido como um anjo das responsabilidades:

  • – Resolve isso.

Hobbes dizia que “o homem é o lobo do homem” e… Espera!

Permitam-me informar uma coisa antes de continuarmos:

É chato eu repetir que o homem come na mão da mulher. Venho dizendo isso a cada capítulo e já acho que o leitor entendeu meu ponto. Mas o exemplo que trago aqui é típico do quão o homem é baixo, fraco e impotente. Bater em mulher? Nem com uma rosa. Nem com um vaso de orquídeas. Nem com uma pá de jardineiro.

Se na hora do sexo, no momento do amor, ela gostar de uma mão forte, máscula, que faz a carne tremer, torna a pele rosada… nesse caso, o homem tem o dever de mostrar sua força. Ainda assim, não deixa de ser um momento de escravidão. Afinal de contas, ou ele bate como a mulher gosta, ou ficará sozinho, resolvendo-se com a própria mão.

Voltando…

Porradaria no desembargador

Créditos: Hot Dog Photography

Pedi para o segurança soltar o Desembargador. Disse àquele rapaz moreno que o senhor era meu convidado. O magistrado entendeu o recado e me acompanhou a um dos quartos onde as funcionárias dali fazem massagens.

  • – Desembargador, tudo tem limite.
  • – Eu tenho o poder da caneta! Se eu quiser, eu fodo a vida dessa mulher e desse puteiro!
  • – Casa de massagem.
  • – Como?
  • – Casa de massagem, Desembargador. Puteiro é sua casa, seu trabalho. – o magistrado ficou com a língua dura e eu continuei – Aqui é negócio privado, e vou dizer só uma vez para o senhor. Ou para com essas gracinhas de adolescente funkeiro, ou a coisa vai feder pro seu lado.
  • – Quem é você para me ameaçar?!
  • – O Desembargador realmente acha que eu não sei de suas histórias? Que o senhor curte levar umas chicotadas e um golden shower? Se deseja manter esse anonimato, é melhor me obedecer.
  • – Você está me chantageando?! É isso?! Garoto… Eu posso ser seu pior pesadelo!!
  • – Não. Eu não trabalho com pesadelos. Eu realizo sonhos.
  • – Seu cafetãozinho de merda!
  • – O Desembargador está ciente. Hoje, é por conta da casa, mas você está me devendo um favor.

Saí do quarto e encontrei Maggie e Alexia do lado de fora da porta. Fiz um sinal com a cabeça e as duas entraram. Eu fui embora da festa antes mesmo que eles saíssem do quarto. Deixei Kelly em casa e voltei pro meu apartamento em Santa Teresa.

Sou foda, digdin

Mussum vestido de Vitim sou foda

Sou Fodis!

Por experiência própria e pelo que me contaram, sei que o Desembargador tomou uma canseira.

Trabalhando nesse ramo aprendi que o homem usa o ventre das mulheres como seu parque de diversão, mas tem no mesmo colo o seu divã. Onde ele come, ele dorme e chora.

No dia seguinte o desembargador me ligou. Ele me pediu um favor:

  • – Armando, quero ser Presidente do Tribunal de Justiça. Faço qualquer negócio.

Pronto. Eu já tomei um dos Três Poderes pra mim. Faltam dois.

O homem é sim o lobo do homem.

Veja os outros capítulos: