SOS Boteco

O visitante de hoje é o camarada Fábio da Silva Barbosa, que entrou em contato conosco elogiando e mandando um texto sobre sua opinião dos bares, botecos, botequins de Niterói, que perderam todo seu encanto bohêmio. Belas palavras de quem realmente ama o boteco como ele deve ser, aquele pé sujo, que alegra, socializa as pessoas.

Botecos, sinônimo de lamentação

Não sei se isso está ocorrendo em todo Brasil, mas aqui em Niterói eu posso me lamentar, sem medo de estar enganado; os botequins estão acabando. Esses locais onde a nata da cultura e da contracultura de nosso país sempre se reuniu para animadas conversas em um ambiente descontraído, sem o moralismo dos “bons costumes”, estão sendo substituídos por locais repletos da frieza que a arrogância do requinte consegue oferecer melhor que ninguém.

Boteco é social, televisão dessocializa

Para de olhar a TV que a cerveja tá esquentando

Créditos: GVale

A primeira grande mudança observada é a televisão prendendo a atenção das pessoas que costumavam estar ali em uma extravagante troca de idéias. Depois podemos observar os petiscos que antes ficavam expostos na vitrine e que agora vem em cardápios trazidos por garçons. Chouriço, moela, batatinha a calabresa, cu de galinha frito… Tudo isso é substituído por uma pálida porção de batatas fritas (daquelas congeladas, que vêm num saquinho) ou vá lá saber o quê.

Créditos: dereckesanches

Os que ainda ostentam esse nome não lembram em nada aquele balcão super confortável, onde nos debruçávamos e muitas vezes conversávamos com pessoas que estávamos acabando de conhecer. Um enriquecedor papo de balcão, ou conversa de botequim, como muitos gostam de chamar.

Frequentadores de bares desde moleques

Desde moleque sempre freqüentei os botecos de Niterói. Outro dia fui caminhar com meu parceiro de elucubrações Alexandre Mendes, e fizemos uma verdadeira peregrinação por Santa Rosa em busca de um botequim onde pudéssemos encostar a pança e colaborar com o burburinho de vozes que fazem a sinfonia desses lugares.

Créditos: Paulo de Loyola

De vez em quando uma gargalhada sempre corta o ar. AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA… Estávamos precisando de algo assim para reorganizar as ideias. Mas, para nossa surpresa, todos os botequins de verdade foram reformados. Agora eles têm toalhas sobre as mesas e substituíram o copo americano por tulipas finas.

Finalizando

Coitadas das pessoas. Vão perder um reduto onde a interação com a diversidade característica do ser humano está dando lugar à uniformidade das ilhas mesas. E a conversa que se começava com um e terminava com outro? Essa está sendo travada apenas com a televisão.