Amnésia

Quando acordei, ela estava linda ao meu lado. Podia sentir seu corpo nu junto ao meu. Cabelo solto. Pele macia. Carne. Ela ocupava o meu lado da cama. O braço em cima de mim, pequeno como a dona. Não podia ser melhor. Feliz ao lado da mulher que amava. Levantei calmamente:

Até que pensei…

Vou fazer um café da manhã para ela

Não acendi as luzes, pois não queria acordá-la. Saí. Vagarosamente. No escuro.

Café da manhã com vinho

Café da manhã dos campeões

Créditos: bunbunlife

Panqueca. Macia. Um dedo de grossura. Dourada. Um toque de laranja. Cítrico. Doce. Cheiroso. Manteiga. Derretendo. Molhada. Mel. Fios e fios. Hortelã. Algumas folhas. Canela no pó de café. Açúcar. Água gelada. Vitamina de mamão com aveia. Tudo bem revigorante. Ela devia estar exausta. Tinha que reabastecer minha bela mulher.

Enquanto preparava tudo, tentava lembrar o que tinha acontecido na noite anterior. O ponto em que estava no bar com os amigos. Uma imensa escuridão em minha memória. Luzes apagadas. O sexo antes de dormir. Nada depois disso. Acordo com minha mulher ao meu lado. Não podia estar mais feliz.

Café da manhã pronto. Até que…

Bandeja arrumada. Um copo de água com uma rosa do meu vaso. Entrei no quarto e deitei ao seu lado. Coloquei um travesseiro em cima das minhas pernas e a bandeja por cima. Acendi a luz ao meu lado e pude ouvi-la acordando. Estava lá. Nua. Debaixo do cobertor.

  • – Amor, fiz um café da manhã especial para você! Sai debaixo do cobertor e vem comer.
  • – Amor?! – ela responde me estranhando.
  • – Vamos acordar! Tem um sol maravilhoso lá fora. Podemos ir à piscina ou à praia. Depois eu faço um almoço esperto e bebemos um vinho para curar a ressaca. São dez horas ainda.
Rei e rainha tomando café da manhã

Não to vendo café nenhum...

Créditos: Tara

Quando ela tira o cobertor de cima da cabeça… Pude sentir cada músculo do meu rosto de contorcendo. Os fios de cabelo eram loiros. Amarelos como o sol. Como trigo brilhando. Como manteiga. A pele branca como leite, massa de panqueca. Parei de respirar. As pintinhas como minúsculos borrões de café. As unhas da cor laranja. Os olhos verdes. Ela estava linda. Acordou e me deu um beijo.

Errr… Fodeo…

  • – Ai, que lindo!! Você fez isso tudo para mim?! Não acredito!

Eu permanecia calado. Sem respirar. Aguardado uma reação. Ela tira a bandeja de cima de mim e toma para si. Começa a devorar cada pedaço da panqueca com as mãos. Lambe os dedos.

  • – Que delícia! Foi você quem fez?! – me tirando da inércia
  • – Você não é a minha namorada!!
  • – E eu nem sabia que você tinha uma. – ela percebe meu olhar perplexo – Tem algum problema? Ela não precisa saber da noite de ontem.
  • – Eu não acredito! Eu não acredito!
  • – Calma! Fica tranqüilo. Vou só comer esse café da manhã delicioso e vou para a minha casa.
  • – Eu não acredito! – continuo repetindo.

Me usou, filha da mãe…

Bebe fdp

Assim que terminou, ela levantou e foi embora. Ainda audaciosa, se despede beijando a minha boca. Quando a antagonista saiu de cena, finalmente pude me recompor. Esfomeada, comeu tudo. Mesmo a refeição sendo para dois. Passou meu perfume. Usou a minha escova de dente. Bateu a porta ao sair.

Ficou uma imensa dor em meu coração. Nunca fui homem de fazer esse tipo de coisa. Senti que o traído era eu. Senti que estava dentro de uma pegadinha. Pensava: “Eu não acredito que fiz café da manhã para uma estranha!”