Cafajeste

Créditos: MUSSE2009

Eu estava sentado, sozinho, na mesa daquele mesmo bar de sempre quando ela veio puxar assunto. Logo no início o assunto é daqueles que fazem o homem se ajeitar na cadeira:

  • – Eu acho essa música muito corta tesão!

Direta ao ponto

Ela estava se referindo ao carro que estava de porta-malas aberto. De dentro dele saía um som que agradava somente ao dono e seus amigos. Todos ali estavam bêbados de vodka com energético. Eu não estava menos sóbrio, mas apenas consumira uma garrafa de cerveja e dois copos de uma boa cachaça.

  • – Não acha que para a mulher ficar mais a vontade o som tinha que ser algo mais trabalhado? Uma boa criação instrumental ou um bom vocal sensual fazem diferença. É esse tipo de coisa que banaliza o sexo e rebaixa a mulher à um depósito de esperma.
Não perdem tempo

Não perdem tempo

Só me restava concordar. O som realmente falava sobre coisas obscenas, mas em nada a música estimulava. Perguntei à ela o tipo de som que ela levaria para a cama e, sem pudores, ela respondeu:

  • – Levaria o Chico Buarque, Ella Fitzgerald, Sade ou Billie Holliday.
  • – Você curte mulheres também, ou só mulheres? – não pude hesitar em perguntar.
  • – Curto tudo, desde que seja prazeroso – ela respondeu.

Agora fodeo…

Aceito qq coisa...

Nesse momento não tinha mais posição. Ela, percebendo meu incômodo, puxou uma cadeira e sentou à minha frente. Reparava que no rosto dela tinha uma expressão de felicidade. Só então fui notar a figura de cabelo curto, pele branca, seios fartos e curvas generosas, mas sem exagero.

  • – E você? E o que curte levar para cama? – perguntou querendo me intimidar.
  • – Champanhe, morango e vinho – respondi sem pensar.
  • – Deu para notar que você é daqueles que gostam de beber! Me conte mais sobre você, homem-misterioso.
  • – Em primeiro lugar, homem não se mede pelas palavras, mas pelos atos, em segundo, é típico do escorpiano ser misterioso. Se depender de mim, vou te mostrar só a parte que me interessa.

Recebido o troco

Ela se ajeitou na cadeira e pediu um copo de cerveja e outro de cachaça, assim como eu. Percebi que tinha sido inconveniente, mas preciso no comentário. Estava somente revidando. De certa forma, tanto fiz bem que ela passou a colocar o cabelo por de trás da orelha. É a redenção da loba. Ela se aquieta como se estivesse acuada.

  • – Parou de falar ou precisa ficar em pé? – ela abre os olhos de espanto – Vamos lá! Você não veio puxar esse assunto se não estivesse com o pensamento em outra coisa.
  • – Pois bem, conheço a sua namorada e ouço o que ela fala de você. Quero saber se é verdade – ela fala quase que desabafando – Quero ir para a cama com você!
  • – Ela não está em casa hoje. Se quiser, pague-me umas cervejas e vamos para a minha casa. Lá eu te mostro o que é verdade ou mentira.
  • – Ok – ela responde com um sorriso gigante.

E pra finalizar, o fatality…

Hasta la vista, baby...

Hasta la vista, baby...

Falamos sobre sexo por horas. Posições, o que ela gostava, como eu fazia. Em nenhum momento trocamos de assunto. Ao final da noite, quando ela já estava bem bêbada e eu ainda achava um ponto de equilíbrio, eu disse:

  • – Três coisas.
  • – Diga…
  • – Sobre minha atuação sexual, pode ter certeza que a minha namorada está correta. Sobre irmos à minha casa, você está enganada que a levaria para a cama. E terceira, obrigado pela cerveja.

Levantei e fui embora sem olhar para trás, somente imaginando a insatisfação estampada em seu rosto. Tinha tomado a decisão quando estava no sexto copo de cachaça. Não poderia desmentir a minha namorada. Mesmo assim, fiz questão de manter o mito vivo. Segui para a minha casa pensando “Ela ainda vai sonhar comigo”.