Jeremy veio, viu e bebeu!

Um dia desses, eu estava de passagem por Macaé/RJ, quando recebi um telefonema convidando para um churrasco.

Era o aniversário de um petroleiro, ele e a turma estavam desembarcando naquele dia para a festa. Esse povo quando desembarca é assim. Muita festa, muita alegria por estar desembarcando e muita sede também!

Cheguei lá, encontrei com o meu amigo, o aniversariante, e ele me apresentou a turma. Sabe aquela: “Festa estranha, com gente esquisita…”? O povo era meio esquisito mesmo, só que nesse caso eu aguentava mais birita e apesar de não ser a minha especialidade, a cerveja estava geladaça e todos nós bebíamos feito gente grande.

Papo vai, papo vem…

Galera brindando com cerveja

O papo com a turma tava legal, rolava uma sinuquinha, tinha uma tabela e uma bola de basquete dando mole e a carne estava saindo com regularidade. Como era de se esperar, o álcool foi subindo em escala inversamente proporcional ao nível da conversa. Como eles ficam 21 dias de folga e fazem muita festa juntos, o pessoal que trabalha embarcado sempre tem muita coisa pra contar e quase sempre envolvendo álcool, derrotas, romances e pragas rogadas aos chefes.

Rolou uma história de um cara que deu um chupão no pescoço de uma colega em uma festa e depois ela teve que ficar usando maquiagem por mais de uma semana pra esconder o flagrante. Como não falaram o nome do santo, ficaram tentando descobrir quem seria o artista. O papo estava tão bom que nem perceberam que a cerveja estava no fim e não tinha mais nada para manter o nível de álcool no sangue daquela turma.

Até a hora que me convocaram

Dunga com cara de pensativo

Até que alguém disse:

Ei Jeremy, indica uma cachaça pra nós!

Eu até pensei em esculachar e pedir para mandar uma Anísio Santiago. Um monte de petroleiros cheios da grana não se importaria em meter a mão no bolso. Ainda mais depois de um monte de geladas. Mas aí pensei melhor: se eu queimo meu filme com eles, deixo de participar das festas regadas que eles sempre proporcionam.

Me deram um telefone com um cara na linha. Ele disse que tinha uma grande variedade de cachaças, mas todas de coluna (industriais) e isso não me interessava e nem me dava a oportunidade de mostrar uma qualidade que a maioria desconhecia.

Perguntei pelas artesanais. Em meio a vários nomes desconhecidos e de regiões suspeitas, eis que ele me diz: “Jacutinga, de Nova Friburgo (RJ).” Eu disse: “Manda!” Em cinco minutos a cachaça estava lá.

Grande Jacutinga

A cachaça levantou suspeitas em muita gente e me rendeu muitos olhares atravessados. Apesar do rótulo bem elaborado e com boas informações, a garrafa tem o relevo da 51 e isso deixa qualquer um inseguro. Mal sabem eles que o reaproveitamento de garrafas é comum e não raro encontram-se cachaças em garrafas com os dizeres: CERVEJA. Se é para reaproveitar a garrafa, porque não manter ao menos o gênero?

Boa, mas nem tanto

Garrafas a parte, vamos falar do que havia dentro. A Jacutinga tem uma cor dourada belíssima e muito convidativa, mas na hora de beber deixa um pouco a desejar. Apesar de ser uma cachaça muito suave, tem cheiro e gosto muito alterados pela madeira usada no envelhecimento.

Carvalho, aspecto, cheiro e gosto

Foto de um tonel de carvalho

O Carvalho deu um aspecto muito bom, mas roubou o cheiro e o gosto da cana e o que fica é apenas o gosto muito acentuado de madeira. Apesar da decepção de quem gosta de apreciar cada gota de uma boa cachaça, o resto da turma gostou muito e foi o suficiente para manter o clima descontraído e a conversa rolando então a avaliação geral é a de que a Jacutinga é uma boa pedida.

Tão boa que embalou ainda mais jogadas dignas de transmissão ao vivo pela ESPN na sinuca, cestas de fazer inveja a Kobe Bryant no basquete e fez a verdade fluir mais livremente pelo local. Tão livremente que fez um casal improvável iniciar uma conversa olho no olho e que eu aposto que não era sobre a novela das oito.

Não fosse a van que levaria as pessoas embora da festa chegar (todos os que estavam lá ainda não haviam passado em casa) e na qual eu pegaria carona, imagino no que daria aquela conversa.

E ainda tem gente que não acredita que cachaça tem poderes mágicos!