O churrasco despretensioso de cada dia

Acordei péssimo depois de um churrasco com os amigos. Mais uma vez tentei em vão culpar o tempero da costela ou o pouco vinagrete que consumi. Numa medida desesperada, pensei em culpar o pão de alho… Mas não eram os quitutes os responsáveis pelo gosto de guarda-chuva que habitava minha boca. Era óbvio, novamente, fui traído pela ressaca!

Ressaca pós churrasco, regra quase certa

Tenho o maravilhoso péssimo hábito de frequentar churrascos que só levam esse nome por termos carne disponível para consumo. Já cheguei a frequentar churrascos sem carne, afinal, o que importa é a cerveja! Percebo que sempre que tais reuniões ocorrem com liberdade para que “cada um leve uma caixinha”, o day after exige mais do meu combalido fígado. Resolvi fazer um mini flashback gigante para tentar compreender o motivo das recorrentes ressacas.

Organismo durante e após o churrasco

Espetos de churrasco

Créditos: endorfina

Cada organismo reage de uma forma, é verdade, mas acho que entendi, fazendo uma análise sóbria dos fatos, as razões pelas quais fico tão mal após eventos de abastecimento coletivo. A mistura de cervejas!

Sou do tipo que não tenho o menor problema em misturar bebidas. Com exceção do vinho, que respeito em virtude de memórias tristes que envolvem o abandono de minha dignidade humana. Tirando as misturas que envolvem a bebida de Baco, misturo com boa frequência whisky e/ou vodka com cerveja. Sendo assim, quais seriam os motivos de ficar tão mal com cervejinhas? As famílias, os estilos!

Misturar cervejas no churrasco é um combo estilo foda-se

Em um churrasco, ou evento onde cada amigo leve “sua cerveja” geralmente tentamos padronizar um pouco a marca a ser consumida. Geralmente, o meu pessoal fica entre a Brahma e a Antarctica. Com a invasão e a popularização das lagers no Brasil e a galera subindo na vida, as cervejas pilsen foram perdendo um belo espaço. Naturalmente, as pessoas não se importam em levar cervejas “melhores”. Afinal, a recomendação de Brahma ou Antarctica serviria como um piso, com o objetivo de evitar os malandrinhos da Nova Schin, da Itaipava e até da Skol, por exemplo.

“Não beberemos daqui pra baixo”, seria um recado mais ou menos assim. A vaidade e o gosto ajudam nessa suruba cervejeira. Stellas, Buds e Heinekens invadem os churrascos atuais, encontrando baixíssima resistência, mas acabam se juntando às cervejas pilsen que também comparecem.

Cerveja estupidamente gelada

Cerveja gelada e carne de churrasco

Créditos: Dan Steinberg

Como vale sempre a mais gelada, você mantém a sua preferência até certo ponto. Quando a diferença de temperatura ou a sua marca favorita se esgotam, a vaidade sai pela janela. Você só pede a Deus, ou ao Bozo, que a cerveja não acabe e bebe o que tem. O álcool não é somente um lubrificante social que deixa as pessoas mais bonitas. Uma pessoa bêbada vê beleza em qualquer pessoa… e em qualquer rótulo. Uma pessoa bêbada vê o mundo mais boniiiito. Se não fica difícil achar atraente alguém que pese três dígitos, ou uma lata de Glacial, o que poderíamos dizer de cervejas tão bonitinhas e gostosas? É nessa hora que você, que já encheu a tromba de “pilsens”, começa a se afogar na outra família.

Repare que em churrascos padronizados, com somente uma marca de cerveja, sua chance de acordar no dia seguinte como um zumbi saindo da cova do cemitério indígena do caboclo Mamadô é bem menor.

Infelizmente, esse problema é muito pouco solúvel, a menos que a organização seja MUITO coesa e as pessoas em questão sejam MUITO comprometidas, isso permanecerá acontecendo. Enquanto uma Glacial não pular no isopor, agradeça! Sua dignidade ainda tem um ticket médio excelente!