Ô lá em casa

Beber nunca foi problema. Nem as porradarias com garrafas voando me arranharam. A confusão da bebedeira começa quando chego em casa. Eu sei muito bem o caminho do meu “Recanto do Guerreiro”, mas lá mora uma amazona indomável e de hierarquia superior que não perdoa meus prazeres. Seu nome? Patroa.

Cachorros cachorros, mulheres a parte

Créditos: markphillips

Se eu tivesse um vira-lata sarnento, quando abrisse a porta de madrugada, seria recebido com alegria com ele correndo em minha direção. Talvez alguns latidos fossem a minha preocupação para não ser obrigado a me livrar dele. Colocaria uma ração em sua tigela, faria uns afagos e trocaria a água. Quiçá limpar umas fezes espalhadas pelo humilde apartamento. Tudo muito simples e rotineiro.

A velha rotina…

Mas eu tenho a Patroa. Quando abro a porta de madrugada, ela está lá, me esperando na sala. Vem correndo em minha direção, com um tamanco numa mão e um o dedo acusatório em outra. Nessa relação, eu sou o cachorro vira-lata e sarnento. Levo um esporro que acorda os vizinhos e fico com medo dela se livrar de mim. A comida está na geladeira, a água é da bica e tenho que me limpar sozinho. Tudo muito complicado e rotineiro.

Sofá, o grande companheiro

Créditos: Gregory Kim

Outro dia, Patroa veio reclamar da minha bebedeira. Dizia que o Bar do Walter – local que sempre freqüentei – era para desocupados. Xingou-me umas quatro ou cento e vinte e três vezes e, educadamente, pediu para eu dormir no sofá. Como sempre, Patroa, muito centrada, substituiu o “por favor” por um bem colocado “porra”. Eu pensava: “O que não faço pelo meu amor?”.

No dia seguinte ela voltou a reclamar comigo. Eu não entendia o por quê da reclamação. Ora, se ela queria que eu parasse de freqüentar o Bar do Walter, eu tinha atendido ao pedido. Tentei explicar que atendi aos desejos dela e mudei, só para agradá-la. Queria mostrar à ela que faria de tudo para a relação continuar. Não podia perder minha Patroa. Mas ainda assim, fui chamado de irônico. Ela duvidava da minha história.

Ae complicou…

Leva minha mulher, mas não leva minha garrafa!

Créditos: Man met bril

A situação complicou quando eu provei que não estava no Bar do Walter.

Amozinho, entenda o que digo! Eu fui ao Boteco do Afonso. Fiz o que você pediu: Bar do Walter nunca mais! Eu faço tudo por você.

Patroa achou aquilo tudo uma brincadeira sem graça e disse que não queria mais me ver bêbado. Nessa hora o orgulho me bateu. Ser acusado de ser um ébrio eventual é dose! Aturar aquela falta de respeito com a minha pessoa é demais, até para mim, mero serviçal do amor. Senti-me violentado.

Saí de casa e nunca mais voltei. Comprei um cachorro e fomos felizes para sempre. Apesar das ressacas.