As razões pelas quais eu bebo

Durante um curto período da minha vida adulta, eu bebia com meus amigos. Sim. Dos 18 anos aos 21, eu consumia álcool em baladas, barzinhos e churrascos. Mas eu não via muita graça nas bebidas alcoólicas: elas tinham gosto ruim. Mas hoje eu bebo.

Nessa época, eu me lembro de estar sentado na calçada da minha rua, onde a maioria dos meus amigos morava, em uma noite de verão daquelas gostosas e quentes, lembrando com um deles o quanto a noite anterior tinha sido divertida. É legal falar sobre porres! E no meio da conversa, concluímos que as noitadas seriam bem menos divertidas sem as bebidas.

Bebida faz mal, mas eu bebo…

Mulher bêbada

Desse jeito, realmente

Nessa mesma conversa, falávamos sobre os males que os estimulantes faziam ao mundo. Se, por um lado, a bebida deixava a noitada mais divertida, causava uma série de acidentes por conta de motoristas embriagados correndo feito loucos. E começamos a pensar na clínica onde outro amigo nosso chegou a ficar internado por motivos mentais. Esta clínica também tratava de dependentes químicos, e nós víamos o quanto essas pessoas sofriam por causa de seus vícios.

A conclusão que chegamos é a de que o mundo seria um lugar melhor se não existissem coisas como ácidos, drogas sintéticas, crack, LSD, cocaína, maconha e até mesmo as bebidas que elogiávamos anteriormente. As pessoas teriam que enfrentar seus problemas, não haveria escapatória. Ninguém poderia ficar bêbado ou drogado, correndo o risco de se viciar. Elas teriam que enfrentar toda a feiura, pobreza, racismo, sexismo e desigualdades sociais sem nenhum escapismo químico.

No final da conversa, concluímos que, sem dúvidas, um mundo sem entorpecentes seria um mundo melhor.

Pausa para pensar

Sim, eu realmente disse isso (ou pelo menos algo nesse sentido) há 19 anos. Em breve completarei 38 anos, o dobro da idade que eu tinha na época em que eu e meu amigo concluímos que o mundo seria um lugar melhor sem estimulantes. A minha visão atual não poderia discordar mais da minha visão aos 19 anos de idade.

Hoje em dia, diferentemente da minha versão quase abstêmia que durou dos 21 aos 35 anos, consumo os tais estimulantes. No meu caso, bebidas alcoólicas. Hoje acredito que essas bebidas servem como distrações. A noção de que o mundo poderia estar em paz, com todos os humanos de mãos dadas, é uma utopia. Se não fossem os estimulantes, os seres humanos estariam uns cortando as gargantas dos outros em números alarmantes. Independentemente de posição social ou de quanta grana você tem, os estimulantes são uma das poucas coisas que podem tornar a vida suportável, se não agradável, para todos, de forma igual.

Mas vale apelar para qualquer estimulante?

mulher fumando

Créditos: Réhahn Photography

Como tudo na vida, toda escolha tem uma consequência. E o uso de estimulantes pode ser muito perigoso para algumas pessoas. Tenha cuidado! Existem drogas pesadas, que podem lhe tornar um dependente químico rapidamente, e ninguém aqui quer isso.

Escolhi beber porque um final de semana na companhia dos meus amigos, tomando cerveja e jogando conversa fora, me afasta dos meus problemas cotidianos. Algumas horas no bar e um pileque podem salvar a minha semana. Um noitada, um porre e uma paquerada podem fazer toda a diferença naquela semana na qual você tomou esporro do chefe, brigou com a gerente do banco e recebeu um boletim cheio de notas vermelhas da sua filha adolescente.

Bebidas ajudam os tímidos

Outro fator é que eu sou (costumava ser) uma pessoa tímida. O álcool me deixa mais desinibido para fazer novas amizades, por exemplo. Com os problemas cotidianos e uma timidez que, na adolescência, faria a pessoa da música “Ask”, do Smiths, parecer um apresentador de programa de auditório, um pouco de bebida fez toda a diferença na minha vida.

É uma pequena fatia de consolo, eu sei, mas o ponto é que quaisquer que sejam as frustrações e atribulações do meu dia-a-dia, a cervejinha do meu fim de semana pode ser uma coisa poderosa. Ela me oferece a possibilidade de fechar o meu mundo exterior e curtir um momento de descontração sem julgamentos. Depois da primeira cerveja ou de umas doses de destilado, eu já nem me lembro das viagens que faço toda segunda de madrugada e sexta à tarde.

Já não lembro das inúmeras contas e incontáveis problemas que tenho para resolver. Esqueço que o meu pneu do carro está esvaziando e eu ainda não fui no borracheiro. Em pouco tempo, estou rindo e me divertindo com meus amigos. É felicidade induzida pelo álcool.

Não concordo com a sua opinião!

Galera bebendo na Oktober

Não? Que bom! Vivemos em uma democracia. Ninguém precisa concordar com a minha opinião. Ao escrever esse texto, corro o risco de ser taxado de bêbado. (Aliás, quando passei a escrever textos para o PdB, um incontável número de pessoas passou a julgar o meu comportamento sem sequer me conhecer. Perguntas do tipo “como está o seu fígado?” e afirmações do tipo “você não tem cara que tem filhos” são as coisas que mais ouço.

É o preço que pago por escrever em um site que fala sobre bebidas e também por vir aqui e assumir a posição de que eu realmente gosto de beber. Infelizmente, vivemos em um mundo onde as pessoas adoram julgar umas às outras. Existem pessoas que encontram o “barato” das suas vidas apontando dedos, criando rótulos e falando da vida dos outros. É assim que elas se intoxicam. Veneno puro. Prefiro as bebidas!

As pessoas se esquecem que você acorda cedo, trabalha, viaja, paga contas, dá atenção para a família, para os filhos, para os amigos, volta para a casa e continua trabalhando. Só se lembram de terem te visto no bar ou daquela foto com uma bebida na mão que você postou na rede social.

Foda-se a opinião dos outros…

Com o passar do tempo, e com a experiência de vida que venho adquirindo, descobri que não ligar para opinião dos outros é bem melhor. O importante é estar feliz consigo mesmo.

Cowboys bebendo cerveja

Créditos: Wade Griffith

Eu me sinto livre para escolher beber nos meus finais de semana. Com a liberdade, vem a responsabilidade. Ter a liberdade de dirigir um carro carrega consigo a responsabilidade de ter um acidente. Ter a liberdade de beber carrega consigo a responsabilidade de não fazer coisas estúpidas, como dirigir um carro enquanto estava bêbado. O direito de ajustar quimicamente um estado mental através de álcool é uma liberdade, uma liberdade tangível que caminha lado a lado com a busca da felicidade e que eu acho que vale a pena defender. Se a bebida só está te trazendo benefícios e não está prejudicando ninguém, por que não?

Em um mundo complicado e muitas vezes às avessas, estimulantes como a bebida alcoólica nos ajudam a transbordar, sem distinção de raça, classe ou credo. Neste sentido, elas são um grande unificador. Desde o mais rico banqueiro de investimentos até o bêbado mais pobrezinho, as bebidas oferecem a cada um de nós a oportunidade de relaxar e aproveitar a vida, não importando se estamos dormindo na suíte ou na sarjeta. Há algo mais democrático do que isso?

Conclusão

homem bebendo cerveja

Créditos: Peter St.

Então, da próxima vez que você ouvir que é um bêbado, ou que o #EstiloPdB é uma babaquice, pergunte-se: quem diabos você pensa que é para dizer o que resto de nós deve beber, comer ou assistir? A arrogância das pessoas que apontam dedos e julgam comportamentos é uma besteira. Nós, que assumimos nossos estilos de vida (e digo isso também para jogadores, homossexuais, feministas, fumantes de tabaco etc.) deveríamos desafiá-los com mais frequência.

Eu não poderia finalizar sem citar uma música. Então, vou com “Walking in My Shoes”, do Depeche Mode:

“You’ll stumble in my footsteps
Keep the same appointments I kept
If you try walking in my shoes
If you try walking in my shoes
Try walking in my shoes”

Concorda? Deixa um comentário. Não concorda? “Try Walking in my shoes”.