Licor: Magia e Mistério

Há muito eu escrevi vários artigos aqui no PdB sobre alguns licores, mas nunca um sobre o LICOR em si, sobre como essa bebida apareceu na história, como possivelmente ela foi criada e seu processo de fabricação. Pois então aqui vai ele.

O licor e suas histórias confusas

A história do licor é uma das mais confusas que eu já pesquisei, cada um conta uma lenda, mas o fato é que ele existe a muuuuuuuuuuito tempo, e que sua lenda se confunde com a história do homem. Entretanto, antes do conto vamos a definição. O que faz de uma bebida um licor?

Licor é toda bebida feita a base de maceração e/ou descanso de vegetais e/ou partes dele, tais como frutas, folhas, raízes e caules com álcool e açúcar ou xarope. Portanto a distinção maior é que no licor o álcool não é produto de uma reação como no vinho, por exemplo. Ele é adicionado a mistura de modo a retirar melhor a essência do vegetal que dará um sabor ao elixir, e o açúcar não é somente o do substrato.

Sabendo disso vamos lá a algumas versões da sua história

Garrafas de cerâmica de licor

Créditos: Les Butcher

Dizem por aí que no ano 300 d.c. as bruxas era famosas, a igreja ainda não tinha todo o poder e o triste episódio ocorrido em Salem e em tantas outras cidades não tinha acontecido. Então essas mulheres eram muito conhecidas por prepararem garrafadas curativas e infusões que tinham poder de fazer um homem se apaixonar por alguém específico, dentre outros efeitos mágicos.

Advinha o que eram essas infusões?

Isso mesmo meus caros, licores, feitos principalmente de rosas, dentre outras especiarias que de alguma forma tinham um pouco a ver como o efeito final. Porém, contam também que somente em 1240, Arnold Villeneuve, um cientista Catalão que escreveu um tratado sobre o álcool, divulgou uma técnica de extração de essências dos vegetais utilizando álcool então a partir disso e um pouco de açúcar teria nascido nosso licor

Hmmmmm, acho improvável

A verdade é que nesse momento escritos antigos nos ajuda, e em 200 a.c é a primeira vez que um licor aparece na história. O Licor 43 causou alvoroço naquela época e aqui no PdB tem um artigo sobre ele. Posso concordar que a forma mais moderna de se fazer licor tenha sido descrita por Villeneuve, entretanto, uma forma de se conseguir a bebida talvez mais primitiva já vinha sendo feita antes de cristo. Só que Villeneuve ainda ajudou em muito na disseminação da bebida, pois no começo acreditava-se que o licor era um remédio, e isso ficou maior quando o nosso cientista recebeu mérito por sua bebida supostamente curar o Papa da peste negra, o mesmo usou um licor que levava ouro na sua composição.

Garrafa de licor

Créditos: LTigers

Portanto, nesta época ficou muito comum usar licores principalmente de ervas pra tratar doentes das mais vastas enfermidades, inclusive não só bebiam como também banhavam as feridas. Com a disseminação de tantos benefícios não demorou até o licor começar a ser fabricado em monastérios e um dos famosos também já foi artigo aqui no PdB, o licor Benédictine foi criado pelo monge Dom Bernardo Vincelli.

A partir disso até a bebida de sabor tão possante começar a ser usada na culinária geral e consumo diário foi rápido, aparecendo em receitas de confeitarias, e no estilo de vida das pessoas, por isso a maioria é dito como digestivo, eles ingeriam um pouco de licor depois de se alimentar, pois a sabedoria popular diz que não se toma remédio de estômago vazio e porque também achavam que um dos efeitos benéficos seria ajudar na digestão.

Sofisticação do licor

Os Italianos foram os responsáveis pela sofisticação da bebida, dando uns toques requentados nos ingredientes. A poderosa rainha Catarina de Medicis em visita a Itália levou algumas receitas para a França, anos mais tarde a bebida aparece como uma das favoritas do rei Luis XIV, e até mesmo o Napoleão se apaixonou por um licor de tangerina, hoje uma bebida muito famosa conhecida como Mandarine Napoleon. Em 1575 com o alto consumo de licor, Lucas Bols fundou a Amsterdamsche Likeurstokerij ‘t Lootsje a mais antiga fábrica de licor e uma das maiores do mundo.

Composição do licor

Por ser uma bebida artesanal, o teor alcoólico varia de forma acentuada podendo ser encontrado licores de 18 a 54% de álcool na sua composição. Sua classificação é dada pela concentração de açúcar, os secos até 100g de sacarose/litro, os doces até 200g/litro, os finos até 350g/litro e os cremes que chegam a 350g.

Dos cremes o meu preferido é Sheridan’s, um licor irlandês feito em duas partes, uma de whisky com café e outra de chocolate belga com creme de avelã, mas sugiro também o licor Mozart, que tem um artigo sobre ele aqui também.

Fabricação do licor

Garrafas de licor

Créditos: Louise Garin

O processo de fabricação é relativamente simples, a essência do vegetal de interesse é retirada com maceração ou descanso em álcool, depois se deixa as frutas em infusão com o álcool por um longo tempo, por ultimo se põe o açúcar e deixa descansar filtrando antes de engarrafar. Há quem faça isso em um mês. O tempo pra cada descanso é relativo, aqui na Bahia alguns artesãos levam até um ano no processo de fabricação, mas obviamente que o processo nas grandes indústrias requer outras etapas, de purificação, filtragem e descanso. Porém não é uma bebida que envelheça como vinho e whisky.

Finalizando

O licor sem dúvida alguma é a bebida mais variada do mundo, das festas juninas do nordeste às grandes destiladoras da Europa se pode encontrar mais de 300 sabores. Dentre raízes, folhas e frutos separados e/ou misturados, anônimos como o Licor de maracujá de Tia Gilma de Cruz das Almas-BA, o Jagermeister representado no nordeste por meu querido Chris Eckert, do inusitado licor de banana feito pela Malibu, ao VOV licor de ovo não muito bem aceito, os doces como o Licor 43, ou surpreendentes como o licor de pimenta, eles são maioria, tem pra todo gosto.

O fato é que se houver algum bar que não tiver nenhuma garrafa de licor, corra, aquilo não é um bar. Eu sou suspeito pra falar, mas ninguém pode dizer que eu estou errado.

Mas agora me digam, qual o licor preferido de vocês?