A beleza do blackout e das verdadeiras amizades

Estou deitado na cama olhando para o teto, branco e descascado, com um super vazio na memória, como um blackout.

Há uma sensação imediata de dor cerebral grave, e uma espécie de consciência entorpecida: eu simplesmente não sei onde estou. Subitamente entra uma mulher no quarto com um copo de suco de laranja perguntando se estou bem. Penso duas coisas: quando me perguntam se estou bem a noite foi daquelas… e ela é gata!

Despeço-me apressadamente trocando contatos e pego o primeiro táxi que aparece. Passarei as próximas horas comendo, bebendo água e deitado na minha cama tentando remontar os acontecimentos da noite passada.

Às vezes essas coisas acontecem como um blackout

bêbado de ressaca com a barriga desenhada

Créditos: Caia Images

Esses períodos de verdadeira escuridão, quando somos forçados a sermos Sherlock Holmes de nossas próprias vidas não são incomuns para o bebedor. E tanto faz se você faz da bebida um estilo de vida ou se é somente aquele bebedor dos finais de semana: o blackout é para todos.

Eu diria que somos abençoados com o blackout. Quem se lembra de todas as merdas que fizemos e dissemos na noite passada é o mais azarado de nós.

Lembrar de todos aqueles atos diabólicos em detalhes vívidos? Normalmente, no momento em que a merda toda começa, nós somos abençoados com o remédio da amnésia. Nossos amigos dirão que brigamos, que cantamos a mulher mais feia da balada, que derrubamos a bebida, que vomitamos… Mas você só se lembrará de alguns flashs e terá uma dificuldade enorme de conectá-los.

– “Quando eu virei aquele shot de tequila?”. Você nunca saberá!

Isso é realmente estranho. Você saiu novamente. Ao acordar tem um sanduíche colado na parede e uma caixa de toddynho derramada no chão. Sua roupa está suja e não cheira bem. Há um pacote de cheetos que ainda não foi aberto e uma garrafa de Heineken completamente quente sobre a escrivaninha. Seus amigos começam a te contar coisas um pouco engraçadas e embaraçosas. Você não lembra nem como chegou em casa.

macaco de ressaca depois de um blackout

Créditos: Albert Villena

Sim. Mais uma vez você foi abençoado! Conseguiu sair sem se lembrar de nada!

Veja bem: não estou dizendo que ter blackouts toda vez que você sai para beber é uma coisa bacana. Para ter um blackout, ou você bebeu muito ou bebeu muito rápido. Ou ambos! Esse tipo de estado de embriaguez pode ser uma arma para pessoas mal-intencionadas. Você pode sofrer um assalto ou até coisa pior.

Eu não endosso apagões. Se vou beber um pouco além da conta, faço isso cercado de amigos. E é através daqueles que confiamos que conseguimos sobreviver a essas noites. Eu já perdi um telefone, um jogo de copa do mundo e a minha dignidade.

Embora eu não seja a favor dos apagões, não deixo de ver a beleza distorcida em sua essência. A ideia de fugir realmente de tudo…

Talvez seja melhor considerarmos apagões como aventuras espirituais, tipo LSD. Isso deve fornecer algum consolo para as vezes que acordarmos na tarde seguinte tendo que enfrentar nossa dura realidade.

O verdadeiro eu

homem tapando a cara

Créditos: Igor Stevanovic

Blackouts permitem-nos ver a nós mesmos de fora, de forma nua e crua, fora de controle. Pela primeira vez nós não temos uma opinião sobre o tipo de pessoa que somos ou poderíamos ser. Os seres doentios e amorais, as monstruosidades da nossa psique, podem surgir e tornarem-se públicos. O mundo inteiro ganha uma compreensão mais profunda de nós, e é possível que ele nunca mais seja capaz de nos olhar da mesma forma.

Você confia em si mesmo? Você já pensou que talvez não deveria? Só há uma maneira de descobrir, então é melhor você ter bons amigos… Porque a verdade é: a amizade é a beleza dos blackouts. Claro que é. Sem os nossos amigos estaríamos na sarjeta!

Finalizando

Valorize essas amizades. Retorne favores e perdoe as falhas dos outros. Porque se você está se divertindo nessa vida passageira é porque tem amigos. E na próxima vez pode ser um deles que precisará de ajuda em uma noitada que resultará em blackout. Eu? Tenho os melhores amigos do mundo! E eu sei que você, caro leitor, também tem.

Agora feche os olhos. Arrisque.

– “Uma tequila e um Jagger por favor”.

Créditos da foto de capa: Arne Dielis