Rufião – o Rei do Rio: Capítulo 6

Coloquei Alexia a frente da campanha do desembargador para presidente do Tribunal de Justiça. Ela levantou uma lista com 18 desembargadores e uma desembargadora que usam nosso serviço. Num universo de 180 magistrados, eu tenho 10% dos votos.

A namoradinha do Tribunal

Loira linda na frente de um carro

Fiu fiu!

Créditos: Konstantin Lelyak

A elegância, o conhecimento em línguas e a boa educação são fundamentais. Esse é um meio de pessoas formadas e Alexia tem tudo pra ser a perfeita namoradinha do Tribunal. Além do mais, quando ela coloca um terninho, fica uma coisa suculenta. Uma mistura de recatada com putona. Tipo uma Zooey Deschanel sem ser retardada.

O Estado de Direito se divide em três poderes: Judiciário, Legislativo e Executivo. Essa divisão se dá para evitar ditaduras, autoritários e dar maior segurança ao cidadão. Cada poder controla o outro. Algo de “freios e contrapesos” que a Kelly me explica enquanto estamos bebendo aqui no nosso escritório.

  • – Tenha certeza que o Desembargador vai ganhar. A Alexia tem o pessoal na mão. Sem contar que o nosso candidato a Presidente do Tribunal de Justiça é judeu, maçom e há anos exerce cargos administrativos. O pessoal não gosta dele, mas respeita. Dizem até que ele tem ligações com grupos de extermínio e milícias. – Kelly fala isso enchendo um copo de uísque pra mim
  • – Que foda, né? A gente mandando no Judiciário. Se você me perguntasse “qual a boa de hoje?”, eu diria “tentar dominar o mundo”. Quer queira quer não, a gente tá mais próximo que a maioria das pessoas que contam essa piada sem graça. – eu digo com um sorriso na boca
  • – E por que não? – ela joga a pergunta no ar, que ecoa no escritório. Eu penso na hipótese.

“E se eu dominasse o Rio de Janeiro?”

Kelly tira o copo de uísque da minha mão e dá um gole. Ela devolve o copo, abre uma caixa de charutos cubanos, acende um, coloca na minha boca e acende outro pra ela.

Loira gostosa deitada e com um copo de whisky

Créditos: Luke Griffin

  • – Vamos e venhamos? Esse Rio de Janeiro precisa de comando. É muita gente querendo ser cacique. É preciso um homem de punho, uma espécie de ser superior, colonizador… sei lá… alguém capaz de dominar tudo isso e por no próprio bolso e resolver os problemas como quem mexe nas pedras de gelo no copo de uísque.
  • – É verdade.

O Rei Leão da Guanabara

Ora, eu não posso contrariar a imagem de uma mulher elegante fumando um charuto. Melhor, ela harmonizava a porra toda. “Charuto tal com uísque tal”, “Queijo x com vinho y”, “salsicha fulana com cerveja ciclana”. Se tem uma coisa que a Kelly sabe fazer é combinar as coisas. A prova disso é essa cena que vejo: cabelo preto solto, batom vermelho, pernas cruzadas, em cima da minha mesa, fumando um charutão como se ele fosse um…

  • – Caralho, Armando! Tá meu ouvindo?! Você pode ter isso tudo pra você!! Você seria um ótimo cara pra dominar o Rio de Janeiro. O Rei Leão da Guanabara!!! – Kelly me acordou
  • – Eu?
  • – É, Armando! Você!!! Com quem eu to falando?! Parece um retardado!!

Kelly suspira, levanta, caminha até o som e pluga o Ipod dela. “It’s A Man’s Man’s Man’s World” do James Brown toca. Ela começa a dançar, mexendo no cabelo, de olhos fechados. Sem tirar a minha atenção dela, sirvo-me uma terceira dose.

Está na hora de representar os cidadãos…

Pense bem em como tudo é desconexo. Um Judiciário no qual você não crê e é extremamente caro e lerdo; um Executivo que enriquece empreiteiras que patrocinam suas campanhas; e um legislativo que põe dinheiro em cuecas pelo seu bem próprio. Essa tal democracia que nos foi vendida é uma enganação. Em nenhum momento o cidadão é representado pelos seus eleitos.

Talvez essa oportunidade de tomar os três poderes do Rio de Janeiro seja uma maneira de Deus escrever certo por linhas tortas. Quem sabe eu não sou o remédio amargo que o Brasil precisa? Vai ver eu sou mais sinistro que eu imagino, né?

Ninguém consegue me provar que eu estou completamente errado. No fundo do meu coração existe um homem responsável e inteligente. Infelizmente, ele reside debaixo de uma camada adiposa que o mantém preso, sem escapatória.

Kelly vem em minha direção, põe a mão no meu tornozelo e vai descendo até minha virilha.

Cão no estilo pimp

Sou um leão, tá me ouvindo?

Créditos: valentina di addario

  • – Quer ser o Carlinhos Cachoeira do Rio de Janeiro?

“E quem não quer ser tão fodão assim?” – eu penso.

  • – Quero ser mais que ele.

Kelly tira minhas pernas de cima da mesa e senta no meu colo, de costas pra mim, pondo minhas mãos eu seus seios.

  • – Eu te prometi fazer rei, não prometi? – ela pergunta sussurrando

Sabe aquele momento de tesão e de nervosismo em que a voz lhe falta como se a garganta estivesse seca, ou sem fôlego? Isso me acontece. Eu digo “sim” tão baixo que ela só deve ter percebido por conta da vibração do meu peito. Uma mistura de coração a mil com esforço pra se reconhecer rendido.

Eu sou o Rei…

  • – Então… eu já estou te fazendo rei.

Enfio a língua na orelha de Kelly, que se levanta. A música está repetindo. Ela se aproxima, me dá um beijo de língua e sai, me deixando sozinho na sala, sem levar o Ipod, que ecoa a frase:

This is a man’s, a man’s, a man’s world, but it wouldn’t be nothing, nothing without a woman or a girl

James Brown sabe das coisas.

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