Juliana Problema: Capítulo 3

Cachorro chorandoCréditos: Stavros Markopoulos

Estava em casa, ainda tentando me recompor após conhecer o pai da minha namorada, quando o interfone toca. Apaguei o cigarro. Era Juliana na portaria. É claro que ela sabia meu endereço, seu pai sabia tudo sobre a minha vida.

Assim que abri a porta, Juliana tira os imensos óculos escuros e me mostra uma face de choro. Como vento forte, ela entrou no meu minúsculo apartamento, derrubou folhas de Xerox, levantou algumas cinzas e sentou no meu sofá. Perguntei o que ela estava fazendo ali. Juliana só soluçava.

Seu cafajeste…

  • – Você… você mentiu pra mim, porquê?! Você… você é só mais um cafajeste?! Você só quis tocar minha florzinha! – e o choro estridente tomava o vão do prédio
  • – Bem… meu bem… eu te amo e… – demorei alguns segundos para falar, ainda estava tentando não rir do “tocar minha florzinha”. Juliana me interrompeu
  • – Você andou fumando?!?! Você disse que tinha dito que ia parar!! Foi outra mentira sua?!
  • – Calma, amorzinho – enquanto eu tivesse cagaço do pai dela, amorzinho seria prudente – eu parei de fumar. Fumei unzinho só. Assim… o último. Sabe como é, seu pai me deixou meio nervoso. O peso que é namorar uma menina tão bonita e importante pra ele caiu sobre meus ombros.
  • – Você é um desses que tem medo dos sogros, né? Ih, sempre namorei homem medroso, que tem medo de se sogro. Não entendo isso, meu pai é um bom senhor.
  • – Veja bem, Juliana. Eu não tenho medo de sogro. Eu tenho medo de miliciano, desembargador, traficante, bicheiro, policial e de vendedor de flor. Como eu sei que seu pai não é um floricultor e nem trabalha nesse ramo, as opções estão vivas.
  • – Ah, papai não gosta de falar sobre o trabalho dele. Nunca soube direito com o que ele trabalha. Só sei que ele é importante e que a casa vive cheia de pessoas importantes também. Tenho muito orgulho dele.
  • – Amorzinho, não há um pingo de curiosidade para saber qual a profissão do seu pai?! – tentei conquistar as respostas através do “amorzinho”
  • – Ah… Eu sei que meu pai é um grande homem de negócios, muito inteligente, sem inimigos e bem informado. Adoro ele. Tudo o que pedi na minha vida, ele me deu.
  • – Juju do meu coração, por um acaso seu papai não é envolvido com algum grande negócio ilegal? – tentei ativar algum dois três neurônios dela
  • – Claro que não!!! – Juliana era só certeza – Se for ilegal, pelo menos não é desonesto. Lá em casa vive cheio de policial, políticos e juízes, só gente do bem.
  • – Que bom, amorzinho! Qual a parte das coisas que eu tenho medo você não entendeu?!
  • – O quê?! Que parte?!
  • – Esquece. – ela não me ajudaria

A mesma história de sempre…

Mais um cigarro por favor...
Juliana se recuperou do choro e, pouco tempo depois, fomos ao quarto, onde Juliana me provou que jamais fora virgem. Após, ela se arruma e, na maior cara de pau, vira pra mim e diz:

  • – Piquititito, deixa eu ir, porque eu deixei o motorista do meu pai esperando.
  • – Porra, Juliana!! Você nunca mais volte pra minha casa com esses capangas do seu pai.
  • – E venho lá de Ipanema pra Botafogo como? De táxi? Eu lá sou mulher pra andar de táxi?!
  • – Sei lá! Venha de ônibus, de bicicleta, andando, asa-delta, velutron… não me importa. Esse monstro vai saber que fizemos sexo e vai contar pro seu pai e fica ruim pra mim.
  • – Ah, piquititito, ele é mais meu amigo do que do meu pai. Escondo nada pra ele e meu pai nem fica sabendo.
  • – Juliana, você é assim mesmo ou é só problema de DNA?!
  • – O quê?!?!
  • – Você é perfeita assim mesmo ou é só um esquema de DNA? – refiz a pergunta
  • – Ah, que namoradinho lindo… Te amo. Estou indo. Mais tarde eu te ligo. Meu pai quer a nossa presença num jantar hoje. Beijos.

Assim que Juliana fechou a porta eu acendi um cigarro.

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