Juliana Problema: Capítulo 7

Segunda-Feira, eu acordo sem namorada e sabendo que a promoção no trabalho não virá. Pior que isso é saber que ainda corro o risco de ser demitido, porque eu nunca fui um exemplo de funcionário ou de colega de trabalho. Agora que perdi minha “bocada” de um sogro como pistolão, percebo que meu mundo está no limite do penhasco. Apenas um empurrão divide o céu que é ser respeitado e o monte de merda que me espera no fim da queda. Ainda assim, me arrumo e vou ao trabalho.

Falar com o chefe, FUDEU!

Cachorro grande com um cachorro pequeno

Miau?

Créditos: Mark Klotz

Assim que chego ao escritório eu encontro um bilhetinho escrito pela secretária do chefe: “PRIMEIRA ORDEM DO DIA: FALAR COM O CHEFE”, assim mesmo, com letras garrafais. Os outros funcionários me olhavam com aquela cara de quem seria demitido. Existia, no fundo, um sentimento de “Finalmente!!!” na expressão daqueles competentes funcionários que sempre resolviam os problemas que eu fazia.

Até que então…

Desanimado, chego à sala do chefe. Lá, estão todos os sócio com cara de sérios. Nessa hora me bate aquela sensação de que não vou ser demitido ou tomar um simples pé na bunda, eles me chamaram para uma orgia e eu ia ser a diversão deles. Pedem para eu me sentar e, então, sem explicação nenhuma, recebo boas notícias:

  • – Preparado para ser mais um dos sócios?! – perguntou meu chefe
  • – Eu?!?! – respondi assustado
  • – É! Sabemos o quanto você é importante para o crescimento da clientela do nosso escritório. Queremos tê-lo como sócio. Aquela sala, perto da cozinha, será sua agora. Basta você assinar aqui e nos aproximar de seus parentes… – ele terminou piscando um dos olhos fazendo menção a conversa que tivemos no luau do pai da Juliana
Homem pulando

UHULL PORRA!!!

Créditos: Eloy Neto

“O homem é o lobo do homem” – já diria um filósofo qualquer e o Falcão, cantor brega. Não poderia perder a oportunidade. Sem contar a verdade de que Juliana tinha me abandonado com um traveco, assinei onde deveria. Fui abraçado, elogiado, agraciado com 5% das cotas do escritório. Eu não seria mais um funcionário qualquer, agora eu tinha pica pra botar na mesa.

Agora é a minha vez…

Voltei ao salão onde todos os outros advogados trabalhavam comigo. Sem falar uma única palavra, eu comecei a colocar minhas coisas dentro de uma caixa de papelão e um deles – aquele que é sempre metido a mais malandro, mais esperto, mais pegador – veio me sacanear:

  • – É… – com um ar superior pra cima de mim – Passou dois anos fazendo porra nenhuma aqui. Achou que eu ia aceitar isso? Mexi meus pauzinhos e fiz os chefes botarem você pra fora.

É claro que o que ele estava fazendo isso para aparecer. Ele tinha a certeza de que eu tinha sido demitido. Ele estava enganado. As mulheres sorriam pra ele, os homens se mostravam amigos dele com tapinhas nas costas. Não podia perder a oportunidade de foder com ele:

  • – É, Marcelo, pensar que um dia você ia ser um traíra desses…
  • – Não! Eu não te traí! Eu fiz um bem pro resto do escritório.
Pé fazendo o dedo do meio

Toma seus FdPs!

Créditos: regulus21

Marcelo foi bem recebido com esse comentário, alguns riam de mim e outros ainda batiam o punho na palma da mão como se dissessem “se fodeu”. Eu, com muita calma, apesar do sangue fervendo, olhava em volta, fazendo aquela pausa para dar o suspense.

  • – Sabe, Marcelo, tu não é bobo, não…
  • – Não sou mesmo.
  • – Tu é otário! – ele me olhou espantado – Deixa de ser marrento. Vai querer cantar de galo pra cima de cobra criada?
  • – Cara, você foi demitido, cata suas coisas e vá embora. – ele falava alto, grosso e cheio de marra
  • – Se fode aí! – estiquei uma cópia do contrato social com minha assinatura – Agora eu sou teu chefe! Dorme com essa!

SE FUDERAM!!!

Marcelo e os advogados caíram como dominós. Vagarosamente, um a um, eles foram se escondendo atrás de petições, processos, telas de computador e saindo para tomar um café. Marcelo não conseguia tirar os pés do chão. Não tive pena.

Homem mandando se fuder

Aqui pra vocês ó!

Créditos: Graham Crook

  • – Quando você foi contar pro chefe que eu era incompetente e que explorava os colegas, ele percebeu quem era o malandro e quem era o otário. Agora ficou mais claro pra você, seu merda?

É claro que Marcelo nunca foi falar com os chefes sobre as coisas de errado que eu fazia. Ele era mais um mero funcionário, como eu era.

Marcelo, ainda tonto, foi caminhando até sua mesa e despencou na cadeira. Eu terminei de catar as minhas coisas e fui para a minha sala. Antes, passei na mesa daqueles que riram de mim e, para cada um deles, botando uma mão no ombro, eu dizia: “Não vou me esquecer de hoje”. Eu podia sentir o cheiro de medo que eles exalavam.

Finalizando

Chefe sentado e bebendo whiskyCréditos: Dan Dvorscak

Na minha sala, em cima da mesa, eu tinha um presente dos sócios: um charuto cubano, um uísque importado, uma caneta de milionário e um celular com internet. Pus meus pés sobre a mesa, deitei na cadeira, liguei para a secretária:

  • – Traga o gelo que hoje é dia de comemorar.

Eu achava que estava no penhasco, mas eu estava era por cima deles.

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